Inverno Charmoso
 



Cronicas

Inverno Charmoso

Riva Velmovitsky


Apesar de morar numa cidade quente como o Rio de Janeiro, onde o inverno praticamente não existe e tem de ser buscado numa cidade com montanha no interior do estado ou numa viagem para o sul do país ou exterior, o carioca não foge à essência humana, de almejar aquilo que não tem. Ainda mais que, sem dúvida, se trata da estação mais charmosa e bem vestida do planeta —, mas isso se a temperatura se comportar dentro de alguns parâmetros.

Em pleno verão no Rio, em que a sensação térmica tem chegado a cinquenta graus e o asfalto parece que vai derreter sob os meus pés quando atravesso a rua para chegar ao foro (debaixo de sol do meio-dia e formalmente vestida) chego a delirar pensando em neve, lareira e chocolate quente. Principalmente, quando não é possível parar de trabalhar para usufruir de praia ou piscina.

Mas é difícil para quem não está acostumado ao frio se adaptar a temperaturas muito baixas; já experimentei menos quarenta graus em Washington e penso que a partir de um certo marco, fica tudo igual, ou seja, roupa nenhuma é capaz de agasalhar e não se tem vontade de sair da cama. E mesmo com essa temperatura, vi moças e senhoras americanas andando de saia ou vestido (sem meias) no metrô. Heroínas? Penso que não, costume.

Leio também nos jornais que pessoas morrem na Europa com calor de quarenta graus. Isso é brincadeira para qualquer carioca.

Há pessoas que ficam paralisadas com o calor, outras que o frio paralisa. Faço parte do segundo time. Também aprendi a cuidar da pressão baixa no verão. Sei que tudo na vida está em se encontrar o equilíbrio, mas parece que a temperatura brinca em se revelar um desafio para se lidar.

Ainda mais num país continental como o Brasil, em que em Tefé, na Amazônia, você não tem a opção de caminhar a pé duas quadras e precisa se de um carro com ar refrigerado, sob pena de chegar molhado de suor ao destino.

Ou em Palmeira das Missões, no interior do Rio Grande do Sul, onde no inverno a temperatura chega a dez graus durante o dia e a zero grau à noite, e você encontra, no comércio local, casacões tão ou mais pesados do que os da Europa ou dos Estados Unidos.

Tenho procurado temperaturas mais amenas, quando decido viajar no inverno, para aproveitar a estação como merecido. Mas quando um filho faz aniversário nessa estação, não há jeito, tenho de enfrentar o frio de Washington ou o de Palmeira das Missões - o último não tão charmoso como eu gostaria já que visto tanta roupa que pareço uma cebola.


Riva Velmovitsky é carioca, advogada, em exercício na cidade do Rio de Janeiro, casada com Roberto, com dois filhos - Carlos e Guilherme - e dois enteados - Raphael e Bruno. Na tentativa de se tornar escritora. Participa do Curso Online de Formação de Escritores

 

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